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Nossa paixão pelos heróis e o valor dos líderes introvertidos

Nas empresas e na vida pública, vivemos uma cultura que privilegia a oralidade e a velocidade. Quem fala mais e mais alto tem chances maiores de chegar ao poder. E quem demonstra autoconfiança e toma decisões rápidas é visto geralmente como mais preparado para assumir posições de liderança.

Pelo seu carisma, intensidade e estilo mais arrojado, os líderes extrovertidos são, para nós ocidentais, o estereótipo do bom executivo, o herói capaz de transformar negócios e mobilizar equipes. Nos filmes, eles equivalem ao nosso Super-Homem, que age rápido e sempre sabe o que falar em cada situação. Ao contrário do Clark Kent, que é mais observador e, por pensar demais, acaba sempre perdendo as melhores oportunidades.

Líderes extrovertidos têm um papel importante para as empresas, trazendo energia, velocidade e provocando mudanças a partir da sua ousadia e da sua inclinação para agir. Mas esse tipo de liderança também pode ser perigoso: líderes excessivamente confiantes podem expor a empresa a riscos desnecessários; e lideranças muito carismáticas podem flertar com a arrogância, desprezando fatos e dados importantes para preservar a sua imagem e sua popularidade.

Por essas e outras questões, hoje se fala muito da importância e das vantagens dos líderes introvertidos. Diversos livros foram publicados sobre esse tema nos últimos anos (veja algumas referências no final deste artigo).

Antes, porém, de falar dos atributos que tornam os introvertidos bons líderes, precisamos entender o que significa essa palavra. Introvertido não é sinônimo de tímido ou introspectivo. O introvertido não, necessariamente, é avesso às interações sociais. A maioria deles interage de forma eficiente e agradável nos pequenos grupos e muitos são capazes de fazer ótimas apresentações para grandes plateias.

A psicologia tem diversas formas de explicar a diferença entre introvertidos e extrovertidos e uma delas é onde a pessoa prefere focar a sua atenção e a sua energia. Extrovertidos tendem a focar sua atenção no mundo exterior, interagindo com as pessoas e com o ambiente a sua volta; são movidos para a ação e se energizam a partir do contato as pessoas.

Já os introvertidos tendem a focar sua atenção no mundo interior (ideias, impressões, opiniões, etc.). Têm uma atividade mental intensa: gostam de observar antes de participar; analisar antes de decidir. E, às vezes, podem se sentir cansados pelo excesso de interação.

Com essas características, os introvertidos nem sempre são os primeiros a falar. Muitos preferem escutar diferentes pontos de vista, analisar com cuidado o assunto e organizar mentalmente as suas ideias antes de dar uma opinião ou sugestão. Pelas mesmas razões, muitos introvertidos preferem ler e escrever antes de apresentar oralmente as suas propostas.

O problema é que a maioria das empresas não tem ambientes favoráveis a isso. Há pressa para agir e decidir. E o diálogo e a análise acabam sendo colocados em segundo plano. Há situações que, obviamente, pedem agilidade. Mas temos que reconhecer que essa não é regra e que muitas vezes a nossa pressa decorre da falta de diálogo ou da nossa baixa capacidade e disposição para uma análise mais crítica e cuidadosa.

E o que acontece, então? Nas reuniões, as pessoas que falam primeiro ou que falam com mais convicção acabam conduzindo a discussão e influenciando as escolhas. Às vezes, isso leva a empresa a erros ou ao retrabalho; às vezes, traz uma solução que não é ruim, mas é só mediana. Enquanto uma ótima solução ficou guardada na cabeça de alguém que não teve chance de falar.

Introvertidos ou não, é claro que, como líderes, precisamos cada vez mais desenvolver a coragem e a capacidade de nos comunicar no contexto da organização. Mas o ambiente e os processos internos também precisam contribuir para dar voz a essas lideranças.

O modelo de trabalho atual enfatiza as atividades coletivas, o brainstorming, as discussões e os trabalhos em grupo – como se a criatividade e a inovação fossem possíveis apenas como resultado da interação contínua entre as pessoas. Há dois problemas nessa crença. O primeiro é que, nos processos coletivos, quem fala mais consegue mais facilmente ter suas ideias avaliadas e aprovadas; e essas ideias nem sempre são as melhores.

Além disso, os processos coletivos não são o único caminho para a criatividade. O pensamento criativo requer também momentos de reflexão individual e solitude: experimentar ocasionalmente o prazer de estar sozinho e utilizar esses momentos para refletir, decidir e criar. Para os introvertidos, esses momentos são importantes para recarregar a energia, ganhar clareza e exercitar o seu potencial. E a empresa toda sai ganhando nesse processo!

Algumas pesquisas, feitas principalmente nos EUA, mostram que o desempenho das empresas lideradas por introvertidos tende a ser melhor que o daquelas comandadas por extrovertidos. Porém, é preciso cuidado para analisar esses resultados. Esses executivos introvertidos podem ser uma amostra mais qualificada de líderes por outras razões: para eles, por exemplo, pode ter sido mais difícil chegar ao topo – já que os processos seletivos tendem a olhar com certa desconfiança para executivos com uma postura mais discreta ou ponderada (“será que vai dar conta do recado?”).

O importante é reconhecer, sim, que as lideranças introvertidas têm atributos muito benéficos para as empresas:

  • Líderes introvertidos, geralmente, escutam mais e pensam mais antes de falar. Querem entender com profundidade o assunto e identificar seus possíveis impactos, para só então falar e agir. Isso torna a empresa menos vulnerável a crises internas e externas.
  • Líderes introvertidos tendem a ser mais prudentes: são menos suscetíveis às opiniões externas, evitam agir sob o calor da emoção e, por isso, estão menos propensos a erros ou a decisões muito arriscadas. Eles transmitem calma, o que é importante para manter a confiança da equipe, especialmente em momentos de crise.
  • Por fim, os líderes introvertidos se aproximam muito do perfil do líder servidor. Com uma postura humilde, estão mais dispostos a demostrar a sua vulnerabilidade e mais abertos a novas ideias e ao contraditório. Por não serem tão apaixonados pelos holofotes, são capazes de dedicar muita atenção e energia para desenvolver e empoderar as pessoas da sua equipe.

Líderes introvertidos são muito importantes para as empresas, assim como os extrovertidos. Hoje se fala ainda de um terceiro perfil: os ambivertidos, que, graças a suas características e a seu esforço de desenvolvimento pessoal, conseguem alternar qualidades de introversão e extroversão, conforme o contexto, humor e objetivos.

Independente disso, mais do nunca, é essencial ter nas empresas equipes diversas, com perfis diferentes que se complementam e se potencializam para construir as melhores relações e os melhores resultados. A diversidade de ideias e estilos de liderança deve ser uma prioridade para as empresas.

 

Referências:

Why Introverts May Be Better Leaders for Our Times – Ray Williams

O poder dos quietos – Susan Cain

Creating Introvert-Friendly Workplaces: How to Unleash Everyone’s Talent and Performance – Jennifer Kahnweiler.

Susan Cain: Susan Cain: O poder dos introvertidos – TED Talk
 
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