O escritório ficou obsoleto? O home office tornou as pessoas mais produtivas? A quarentena fez muitas empresas e profissionais descobrirem as vantagens do trabalho remoto, uma prática que deve se tornar cada vez mais comum.
É sempre bom, porém, ver perspectivas diferentes. E é isso que faz o professor Gianpiero Petriglieri, do INSEAD, em um excelente artigo na Harvard Business Review. Além de falar da importância do escritório físico para nossa identidade, o artigo alerta sobre os riscos na forma como estamos trabalhando remotamente. Alguns pontos interessantes:
- Os escritórios são espaços de identidade profissional onde, por meio das práticas, rituais e relações, aprendemos o que significa e o que é necessário para ser alguém profissionalmente. São espaços que nos definem e nos aproximam de pessoas que se parecem conosco. Não está claro ainda se (e como) os ambientes on-line podem substituir tudo isso.
- Os escritórios criam uma fronteira bem definida entre lar e trabalho e nos permitem ser alguém diferente ou até melhor do que somos em casa. E isso acaba enriquecendo a nossa própria vida pessoal.
- Os escritórios nos impõem rotinas e elas nos ajudam a desenvolver hábitos, tão importantes para o nosso crescimento pessoal e profissional.
Em tempos de home office, muitas empresas têm reportado ganhos de produtividade com o trabalho remoto. Mas o professor Gianpiero Petriglieri alerta que isso pode ser resultado não apenas desse modelo de trabalho, mas do maior nível de ansiedade entre as pessoas. Com medo de perder o emprego, de não serem percebidas na equipe ou de parecerem descomprometidas num momento de crise, as pessoas estão produzindo mais. E não se sabe ainda qual é o impacto disso a médio e longo prazo.
Outro risco no trabalho remoto é o uso de parâmetros inadequados para medir a produtividade das pessoas. As ferramentas tecnológicas, que medem o tempo que cada colaborador permanece on-line, não refletem toda a complexidade do trabalho e não podem substituir a atuação próxima do gestor.
Sem esses cuidados, o trabalho remoto pode estimular dois comportamentos nocivos para os colaboradores e para as empresas: o presenteísmo do século XXI, em que a pessoa permanece conectada (mas não verdadeiramente presente) até mais tarde para ser vista pelo gestor – ou, ao menos, pelo software que monitora a presença on-line. E o neotaylorismo, em que mesmo os trabalhos mais criativos e intelectuais são reduzidos a uma linha de produção on-line, com menos interações humanas e com resultados medidos por um fluxo de entregas virtuais.
Junto com o distanciamento físico, tudo isso acaba contribuindo para a mecanização e desumanização do trabalho, na análise do professor Gianpiero Petriglieri.
É claro que o trabalho remoto, apoiado por boas práticas de gestão, também pode trazer diversos ganhos para as empresas e profissionais. E os seus impactos na qualidade das relações e das entregas dependem de inúmeros fatores, como o perfil das pessoas e o tipo de negócio.
O mais importante, porém, nessa análise é, antes de se lançar a um novo modelo, avaliar novas perspectivas e talvez buscar soluções que equilibrem diferentes formas de trabalho – sem negligenciar nunca o papel das lideranças na construção de ambientes organizacionais saudáveis, humanizados e produtivos.
Para acessar o artigo original da HBR, clique no link abaixo:
PETRIGLIERI, Gianpiero. In praise of the office. Harvard Business Review. Jul. 2020.
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