Qual foi a última vez que você pegou um ônibus?
A pergunta pode parecer estranha para quem está acostumado aos desafios diários de usar o transporte coletivo. Porém, essa não é a realidade de todo mundo. Não só por uma condição econômica melhor, mas também por rotinas, rituais e valores que põem várias pessoas em realidades muito diferentes e distantes da maioria da população.
O problema é quando essa distância se torna tão grande a ponto de virar uma bolha que isola o executivo e o impede de enxergar e de se conectar com a realidade e as necessidades de funcionários, clientes e da sociedade em geral.
Nas aulas de pós-graduação e nos programas de educação executiva, quando faço essa pergunta sobre o uso do ônibus, há dois tipos de reação. De um lado, os profissionais jovens que ainda estão crescendo na carreira e que, pelo esforço próprio ou pelo apoio que receberam, já podem contar com o conforto diário de ir para o trabalho no seu próprio carro, ouvindo a sua música preferida e escolhendo caminhos e horários que melhor atendem à sua necessidade. Para eles, essa pergunta às vezes parece excêntrica e despropositada: eles não veem sentido em abrir mão de um conforto que conquistaram para enfrentar uma rotina mais desafiadora.
Do outro lado, há os executivos de alto escalão, que têm uma agenda apertada e que, para ganhar tempo e serem recompensados pelo papel que ocupam, têm a seu dispor inúmeros serviços. Um carro exclusivo (às vezes com motorista), salas VIP, horários especiais e almoço reservado. Alguns executivos, há anos, não compram a sua própria passagem aérea ou não sabem o que é criar a sua própria apresentação.
Ter mais conforto ou usar formas para ganhar tempo e produtividade não são o problema. A grande questão é quando não somos capazes de reconhecer que a realidade é bem mais ampla do que isso e continuamos usando as lentes do nosso pequeno mundo para avaliar e tomar decisões.
Você pode não pegar ônibus, mas o seu cliente e colaborador sim! Você pode não gostar de sertanejo ou funk, mas o consumidor talvez. Você pode preferir praias desertas ou resorts exclusivos, mas as milhares de pessoas que lotam a areia da praia no feriado têm uma razão para estar lá.
Apenas com base nos relatórios internos ou na pesquisa sobre o consumidor, não é possível compreender tudo. É preciso sair da bolha! O convite para, de vez em quando, usar o transporte coletivo continua de pé. Mas, se isso não é mesmo possível, encontre formas de experimentar o diferente:
- Dentro da empresa, trabalhe alguns dias fora da sua sala, ande pela fábrica e pelos escritórios, fale com pessoas com quem você nunca conversou.
- Visite o cliente, não só o maior, mas também aquele que é pequeno ou compra pouco de você. Passe tempo nas lojas, observe o comportamento do cliente e de quem saiu sem comprar. Conheça e use os produtos e serviços que concorrem com você.
- Inclua músicas diferentes na sua playlist. Mesmo que você não goste da Marília Mendonça ou do Emicida, ouça e tente entender o que leva tanta a gente a gostar.
- Faça um curso rápido numa área que você não domina e em que as pessoas não sabem quem é você. Fará bem para você sentir o frio na barriga, lidar com o novo e não ser tratado com reverência só pelo cargo que ocupa.
- Nas suas redes sociais, mesmo que uma opinião diferente te incomode, resista à tentação do unfollow e do cancelamento e busque entender se há alguma coisa que você pode aprender. Os algoritmos das redes sociais, por si só, já nos colocam numa bolha. Não vamos potencializar esse processo!
E por que fazer tudo isso? Porque expandir a sua visão e experimentar rotinas diferentes permitirá a você tomar decisões melhores e menos enviesadas pelo seu próprio mundo particular.
Expor-se ao novo e ao diferente não só ajudará você a compreender melhor a realidade de seus clientes; vai permitir também identificar com antecipação mudanças e tendências que às vezes demoram a aparecer nos relatórios e pesquisas de mercado. Estar na rua e no cliente vai ampliar o seu repertório para propor novos produtos, definir estratégias comerciais e criar mensagens de marketing que tenham mais ressonância no mercado.
Pegar o ônibus e comer no refeitório trará a você uma perspectiva mais real da vida de seus colaboradores e da população em geral. E, sem isso, não é possível falar de empatia ou se comunicar de um jeito que realmente mobilize as pessoas.
Saia da bolha! Isso fará de você um executivo melhor!
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